Um dos primeiros educadores brasileiros a notar a mudança foi Anísio Teixeira. Ele traduziu A galáxia de Gutenberg, de McLuhan, para o português e descortinou as transformações culturais e suas repercussões no campo da educação. Na apresentação do livro, Teixeira conta que a leitura do comunicólogo rejuvenesceu sua lucidez de homem tipográfico, visual e racional. O livro mostra que os meios de comunicação de massa ampliam os sentidos e transformam a cultura. McLuhan explica a passagem do mundo da cultura oral e manuscrita para a cultura tipográfica. A galáxia de Gutenberg é a cultura do homem tipográfico, experimentado na arte de usar os olhos e o cérebro para compreender silenciosamente o mundo da escrita, o mundo impresso, tipográfico, que criou o espaço público, o Estado, as nações, o pensamento científico e a cultura laica.
Anísio Teixeira fica perplexo porque compreende que faz parte deste mundo que já mudou com o advento dos meios eletrônicos de comunicação. E explica a transformação da galáxia de Gutenberg em um cérebro eletrônico, quando os meios de comunicação eletrônicos e a cultura visual atingem profundamente o modo de ler, de aprender, pensar e interagir. Isto é, a percepção humana se modifica de acordo com as mudanças no modo de utilização dos cinco sentidos.
Ao modificar a percepção humana e inundar o mundo com informações, os meios de comunicação acabam tornando anacrônicos os métodos tradicionais de ensino. Por isso, a escola precisa deixar de ser um lugar fabricador de memórias repetitivas para ser um espaço comunicante e criador. Daí a necessidade de uma educação onde ensino ande junto com a coisa ensinada e com a participação ativa dos alunos, trabalhando em equipe, da qual o professor é apenas o coordenador.
Na era dos meios de comunicação, muitas vezes os alunos têm informações mais atualizadas que a dos professores. Sob o paradigma da cultura contemporânea, os programas, os currículos não podem mais ser permanentes como eram nas escolas tradicionais do século XIX. Atualmente não existe um saber estabelecido pronto para ser transmitido; os programas e currículos precisam ser móveis e abertos à educação como experiência de conhecimento feita a partir de fragmentos e de rupturas e não mais como simples continuidade da transmissão da cultura acumulada. Torna-se cada vez mais necessário abrir as grades curriculares e desmassificar o ensino, que passaria a ser baseado em pesquisa, de acordo com o interesse individual dos alunos. A idéia é não padrão único de ensino para todas as pessoas, mas indivudualizá-lo, de modo a despertar o prazer de conhecer na escola.
Sonia Marrach - A autora é professa de História da Educação da Unesp
e autora de Outras histórias da educação: do Iluminismo à indústria cultural
(1823-2005). São Paulo:
Editora da Unesp, 2010.
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